Fui um menino
tímido ao longo da minha formação escolar, do primário até o ensino médio.
Perdi a conta de quantas vezes deixei de fazer perguntas aos professores por
vergonha, ou até mesmo transitar livremente no pátio da escola movimentada com
receio de que alguém risse de mim por algum motivo. “Bobo e simples, né”? Pois
é! O tímido sempre acha que todos estão vigiando-o e por qualquer motivo alguém
rirá dele deixando-o ainda mais consternado. Além disso, a falta de destreza em
comunicação social, na maioria das vezes, tende a deixar o tímido ainda mais
fechado em si, agoniado por não conseguir se expressar, falar o que sente e
pensa.
Contundo,
não tenho a pretensão de exaltar um tipo de personalidade ou comportamento em
detrimento do outro, dizendo que precisamos ser expansivos e extrovertidos em
detrimento de sermos introspectivos e mais contidos. A questão que se
apresenta é provocar você a refletir sobre comunicação, linguagem e leitura em
seus contextos sociais, e sobre tudo, te incentivar a se
desenvolver em termos de comunicação se colocando assim, de forma mais segura e
confortável nos desafios das interações. Desenvolver-se nessas
competências não é um fim em si mesmo, é uma jornada contínua. Eu continuo na
minha jornada e até escrevo e palestro (risos!).
Voltando
a minha breve história pessoal, quando me dei conta do quanto a falta de habilidade
em comunicação me tolia de oportunidades, tomei a atitude de buscar um
repertório maior em termos de comunicação, era a solução que via naquele
momento para amenizar meu dilema, e esse repertório envolveu uma coleção de
folhas de papel, ordenado e reunidas cujos seus dorsos são recobertos por uma
capa resistente, ou em outras palavras, encontrei os livros impressos para me
ajudarem (risos!).
Passando
muito brevemente pela história, desde as pinturas nas cavernas (rupestres),
passando pelos primórdios da fala e escrita até chegar na língua como sistema
organizado de signos, os conceitos de linguagem, leitura e comunicação tomaram
novas dimensões e complexidade, inclusive se valendo de outras área do saber.
Tranto-se de leitura, esta extrapola
o sentido de leituras de livros, artigos, revistas e jornais, a professora, pesquisadora e
coordenadora da Cátedra Unesco de Leitura do Brasil, também idealizadora do
Programa Nacional de Leitura (Proler) Eliana Yunes (PUC-Rio)
cita:
“Quem não lê não é capaz de escrever, em que língua seja. E não somente nas línguas chamadas naturais,
mas também subsistemas e códigos como os do corpo, na dança; do traço e do
volume no espaço, pintura, escultura, arquitetura; do enquadramento do olho na
fotografia, no cinema e ainda sob linguagens mais insuspeitas como as do
vestiário, da publicidade, do traço das cidades, do comportamento social” (Yunes, 2003).
De
forma complementar, a escritora, professora, pesquisadora e Doutora em Letras
(PUC-Rio) Valéria Pereira comenta que o letramento cultural,
este vai além dos muros das escolas envolvendo a oralidade passando
pela leitura-escrita de múltiplas linguagens, contribui significativamente para
a formação do indivíduo em termos de identidade, de uma assinatura neste
mundo que implica “este sou eu” (Pereira; Ponciano, 2012).
Ainda, a
Doutora Valéria, ao se referir à leitura, logo, a linguagem, envolvendo por sua
vez o contexto de empresas e partindo da conceituação dada por
ela e pela pesquisadora Eliane Yunes, salienta que:
“Não é possível desvincular nenhuma atividade da
linguagem, nas suas diversas modalidades, pois ela se inscreve nas seqüências
de ações com que se concretizam todas as tarefas. Também é inquestionável o
importante papel que a linguagem desempenha para o desenvolvimento das
competências, sejam tácitas, interpessoais ou técnicas dos colaboradores, ou
seja, ela está envolvida em todos os processos empresariais e nos diferentes
níveis hierárquicos” (Pereira, 2015).
Sobre a perspectiva da ampliação do
conceito de leitura trazida pelas prestigiadas professoras e pesquisadoras
citadas, estamos o tempo todo lendo, palavras, textos, comportamentos, signos,
enfim, linguagens verbais e não verbais.
Já parou para pensar, por exemplo, o que o seu corpo fala? Quando seu amigo
está com a cabeça baixa, costas arquiada, olhar perdido e um semblante sério,
que leitura você faz dele? Que leitura você faz de si mesmo quando seu coração
dispera e um incômodo surgi na região do estômago um pouco (normalmente e para
alguns) antes de uma prova? Seu corpo fala!
Já que as leituras são múltiplas,
como reflexo, as linguagens também o são.
Então, o conceito de comunicação e linguagem vai além da fala e da escrita:
“Linguagem é qualquer
sistema de signos que sirvam
à comunicação entre os homens. Os signos podem ser visuais,
sonoros, gestuais, corporais, fisionômicos, escritos ou vocais. A linguagem articulada que reúne os signos
vocais e escritos constitui a língua [...]” (Teixeiras, 2007).
Por
fim,estudiosos da Comunicação Empresarial, ressaltando ainda mais a
importância da comunicação, linguagem e leitura nos vários contextos, tanto
sociais quanto profissionais, advertem que “embora a linguagem verbal seja a mais importante de que se utiliza o homem,
a não verbal é largamente usada e não destituída de relevância, como gestos,
posturas, cores, vestuário” (Medeiros; Tomasi, 2010).
“O
tamanho de nosso mundo tem a extensão de nossa linguagem. Ler é mais que
decifrar códigos, é compreender o sentido das coisas e do mundo, e suas
significações” (Yunes, 2003).
Desenvolver
essas competências reflete positivamente em vários aspectos da sua vida, tanto
pessoal quanto profissional, inclusive na relação sua com você mesmo e no aperfeiçoamento de comportamentos mais produtivos.
Bibliografia
PEASE, Barbara; PEASE, Allan. Desvendando
os segredos da linguagem corporal. Trad: Pedro Jorgensen
Junior. Rio de Janeiro: Sextante, 2005.
TEIXEIRA, Leonardo. Comunicação
na empresa. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2007.
TOMASI, Carolina; MEDEIROS, João Bosco. Comunicação
empresarial. 3º Ed. São Paulo: Editora Atlas, 2010.
PEREIRA, Valéria. Projeto Aprendendo a aprender: encontros para o (auto) desenvolvimento – Círculo de Leitura, 2015.
YUNES, Eliana; OSWALD, Maria Luiza (Org.). A experiência da leitura. São Paulo: Edições Loyola, 2003.
YUNES, Eliana; OSWALD, Maria Luiza (Org.). A experiência da leitura. São Paulo: Edições Loyola, 2003.
Ascom entrevista: Eliana Yunes. Disponível
em: <www.uneb.br/2015/11/04/ascom-entrevista-eliana-yunes-puc-rj-coordenadora-da-catedra-unesco-de-leitura>
Acesso em: 27 de jan. 2016.
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