sexta-feira, 1 de janeiro de 2016

O hábito da crítica! De pai para filho!


Em 1921 foram descobertas duas meninas, Amala e Kamala, vivendo em um caverna da Índia entre lobos. Aparentavam, segundo os estudiosos que a encontraram, 4 e 8 anos respectivamente.  Amala e Kamala possuíam hábitos muito diferentes dos nossos: cheiravam a comida antes de tocá-la, dilacerava os alimentos com os dentes e quase não usava as mãos, se locomoviam apoiando sobre os pés e mãos, isto somado a impressionante sensibilidade auditiva e olfativa.

Outro caso relatado é o do menino Ramu, “o menino lobo”, do qual se tentaram socializá-lo em uma Instituição da Madre Teresa de Calcutá. Tanto em livros de Sociologia quanto em livros de Psicologia do Desenvolvimento há vários outros relatos , como o do Victor.

Assim sendo, o indivíduo fora da convivência e relacionamentos humanos não se tornam humanos! Estranho? Edgar Morin, Antropólogo, Filósofo e Sociólogo, ressalta que não somos humanos em função da nossa genética apenas, aprendemos a sermos humanos, ou seja, estamos em construção e a cultura e o conhecimento são fundamentais para essa construção.

De modo ainda a provocar o leitor a refletir sobre o tema (“não tão dramático quanto as histórias acima”), bem como à buscar  conhecimentos e hábitos mais produtivos e dessa forma, sermos pais e mães melhores (e mais humanos), segue um texto provocativo. “Só não vale se emocionar! (risos!)”

Escute, filho: enquanto falo isso, você está deitado, dormindo, uma mãozinha enfiada debaixo do seu rosto, os cachinhos louros molhados de suor grudados na fronte. Entrei sozinho e sorrateiramente no seu quarto. Há poucos minutos atrás, enquanto eu estava lendo meu jornal na biblioteca, fui assaltado por uma onda de remorso. E, sentindo-me culpado, vim para ficar ao lado de sua cama. 
Andei pensando em algumas coisas, filho: tenho sido intransigente com você. Na hora em que se trocava para ir à escola, ralhei com você por não enxugar direito o rosto com a toalha. Chamei-lhe a atenção por não ter limpado os sapatos. Gritei furioso com você por ter atirado alguns de seus pertences no chão.
Durante o café da manhã, também impliquei com algumas coisas. Você derramou o café fora da xícara. Não mastigou a comida. Pôs o cotovelo sobre a mesa. Passou manteiga demais no pão. E quando começou a brincar e eu estava saindo para pegar o trem, você se virou, abanou a mão e disse: “Chau, papai!” e, franzindo o cenho, em resposta lhe disse: “Endireite esses ombros!”
De tardezinha, tudo recomeçou. Voltei e quando cheguei perto de casa vi-o ajoelhado, jogando bolinha de gude. Suas meias estavam rasgadas. Humilhei-o diante de seus amiguinhos fazendo-o entrar na minha frente. As meias são caras – Se você as comprasse tomaria mais cuidado com elas! Imagine isso, filho, dito por um pai!
Mais tarde, quando eu lia na biblioteca, lembra-se de como me procurou, timidamente, uma espécie de mágoa impressa nos seus olhos? Quando afastei meu olhar do jornal, irritado com a interrupção, você parou à porta: “O que é que você quer?”, perguntei implacável.
Você não disse nada, mas saiu correndo num ímpeto na minha direção, passou seus braços em torno do meu pescoço e me beijou; seus braços foram se apertando com uma afeição pura que Deus fazia crescer em seu coração e que nenhuma indiferença conseguiria extirpar. A seguir retirou-se, subindo correndo os degraus da escada.
Bom, meu filho, não passou muito tempo e meus dedos se afrouxaram, o jornal escorregou por entre eles, e um medo terrível e nauseante tomou conta de mim. Que estava o hábito fazendo de mim? O hábito de ficar achando erros, de fazer reprimendas? Era dessa maneira que eu o vinha recompensando por ser uma criança. Não que não o amasse; o fato é que eu esperava demais da juventude. Eu o avaliava pelos padrões da minha própria vida.
E havia tanto de bom, de belo e de verdadeiro no seu caráter. Seu coraçãozinho era tão grande quanto o sol que subia por detrás das colinas. E isto eu percebi pelo seu gesto espontâneo de correr e de dar-me um beijo de boa noite. Nada mais me importa nesta noite, filho. Entrei na penumbra do seu quarto e ajoelhei-me ao lado de sua cama, envergonhado!
É uma expiação inútil; sei que, se você estivesse acordado, não compreenderia essas coisas. Mas amanhã eu serei um papai de verdade! Serei seu amigo, sofrerei quando você sofrer, rirei quando você rir. Morderei minha língua quando palavras impacientes quiserem sair pela minha boca. Eu irei dizer e repetir, como se fosse um ritual: “Ele é apenas um menino, um menininho!”
Receio que o tenha visto até aqui como um homem feito. Mas, olhando-o agora, filho, encolhido e amedrontado no seu ninho, certifico-me de que é um bebê. Ainda ontem esteve nos braços de sua mãe, a cabeça deitada no ombro dela. Exigi muito de você, exigi muito.

Içami Tiba, renomado educador e psiquiatra já dizia:

Um bom e merecido elogio eleva a alma, aumentando a auto-estima, enquanto uma severa crítica destrutiva congela a pessoa, minando a auto-estima


Nota: título original da carta acima: “O pai perdoa” de W. Livington Larned. Esta carta também está contida no livro de Dale Carnegie intitulado Como fazer amigos e influenciar pessoas (p. 59).

Referências

Dale Carnegie. Como fazer amigos e influenciar pessoas. 50 Ed. Trad: Fernando Tude de Souza. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2002.
Pérsio Santos de Oliveira. Introdução à sociologia. 22 Ed. São Paulo: Ática, 1999.
Edgar Morin. <https://www.youtube.com/watch?v=3QToNL5UoVw> Acesso em: 01 de jan. 2016

Elogios e críticas: é importante que educadores saibam dosar. <http://educacao.uol.com.br/colunas/icami_tiba/ult6425u20.jhtm> Acesso em: 01 de jan. 2016


Papai em apuros: O pai perdoa. <http://www.papaiemapuros.com.br/dicas/o-pai-perdoa.html> Acesso em: 01 de jan. 2016

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